sábado, dezembro 30, 2006
e se
reservar-me-ia o direito de ser um adorno,
talvez uma árvore,
ou talvez uma das nuvens que vestem o céu,
mas nunca uma estrela,
dionisíaca, jamais apolínea,
música, o abstrato da alma,
o yang do tudo, a solitude do nada,
um amor desenhado nas paredes de uma casa em ruínas,
não-amor,
e se o mundo coubesse num quadro exposto ao ar livre,
e se eu coubesse no mundo,
e se o quadro mudasse,
e se o mundo existisse.
>>a respeito do episódio de hoje:
não haverá paz enquanto tiver quem aplauda a guerra.
gandhi dizia que a lei de talião só deixaria o mundo cego e sem dentes, acho que só eu ouvi. aqui se faz, nem sempre se paga.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
.
quarta-feira, dezembro 20, 2006
existe uma cidade...
Pessoas andam nas ruas opacas, se falam com alguma cordialidade, mas sempre mantendo uma distância, como se tudo pudesse remeter à um pensamento escondido na última gaveta da memória. Guardam tudo a 7 chaves, se guardam a 7 chaves, questionam demais e agem de menos, não há reciclagem. A vida torna-se então uma pilha de entulho segmentado.
Fotos cortadas e trancadas em baús de antiquário, lacradas com cadeado, dono de uma chave enferrujada. Seres agem como se pudessem controlar o passado, abstraindo o presente e inviabilizando o futuro. Como se existisse algum culpado pela escolha de uma bifurcação, quando há na melhor das hipóteses, um cúmplice.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
que toda loucura seja perdoada
Ela era calma, aparentava uma certa estabilidade emocional.
Procurou um analista porque não se sentia confortável com seus pensamentos, tal qual em vida de marionetes – ou cria cuervos –, sentou-se no divã e começou a despedaçar a vida, não só a dela – não só a ela –, como a dos outros – os outros –, abrindo cada pensamento que estava embrulhado pra presente no cantinho mais escondido do cérebro, como se aquilo fosse preciso para deixar de ser quem era.
Enigmática e trêmula, ela só sabia dizer que não se conformava, não se conformava e que não estava pronta quando aceitou e assinou um contrato. Sentia-se violentada pela vida, pelos atos, pelo alheio, por tudo aquilo que almejava deter o mínimo de controle e no entanto, não podia. Nem devia.
Passou horas falando, palavras confusas, oriundas de um pensamento igualmente desordenado – um labirinto de idéias que jamais tiveram uma fusão entre si. Cativante, ela sorria e chorava ao mesmo tempo, balbuciando injúrias num tom tão doce que mais parecia uma declaração de amor.
De repente a sala azul virou um jardim, o divã se transformou num banco de madeira – daqueles feitos com toras de árvores –, e o analista não estava mais lá. Como assim, ele não estava mais lá? E a sala? E os móveis? Inseriu-se no âmago do próprio ser e a única resposta que conseguiu encontrar foi que ele jamais existira, assim como a sala azul e o divã, assim como tudo e todos. Quando ela mesma, jamais estivera em lugar algum.
quarta-feira, dezembro 13, 2006
um brinde, o nosso astro merece!
segunda-feira, dezembro 11, 2006
em flashs
quinta-feira, dezembro 07, 2006
as várias vidas de beatriz
beatriz saiu de casa aos dezessete,
beatriz é lasciva,
beatriz é desbocada,
beatriz se apaixona toda noite,
beatriz bebe champagne durante o dia,
beatriz não liga se está feia ou bonita, aliás, não liga pra nada,
beatriz não segue moda, ela desfaz sua moda,
beatriz é dona de um espírito livre,
beatriz tranca a flavia no quarto e sai noite afora, procurando diversão,
beatriz bate na cara da flavia em público,
beatriz é o yang da flavia, e no íntimo, sabe disso,
só que não faz questão nenhuma de reconhecer.
quarta-feira, dezembro 06, 2006
...e vamos falar do signo
Nunca me liguei muito nesse negócio de signos e comportamentos pertinentes a eles, mas hoje – culparei o ócio, obviamente – caí na tentação de catar algo que me faça acreditar que sou assim por alguma força que vai muito além de mim, e das mediocridades que me construíram até então.
Vamos lá, resumo do signo mais chato do zodíaco. Não sou hipocondríaca como a maioria, tenho mania de organização – podia botar tudo em caixas e caixas dentro de caixas etiquetadas e separadas por cor e tamanho, ainda assim acharia extremamente funcional –, faço pouco caso das coisas, como se tudo fosse banal e só o que eu falo/sinto fosse importante, não me envolvo – há aqui um paradoxo entre querer e se permitir –, sistemática, maníaca por limpeza – tanto minha como dos outros, cidades, casas, objetos... –, analiso tudo, critico, pelo menos não dou valor à perfeição – sei que ela não só não existe, como é abominável –, como os demais colegas que dividem o ‘prazer’ de possuir o mesmo signo.
Sou chata beirando o insuportável, mas a gente só enxerga o óbvio quando esbarra num semelhante, e é como se levasse uma tapa na cara. Cadê as palavras? Cadê a funcionalidade? Cadê a ordem? Nada disso é relevante quando se está competindo de igual pra igual, estaca zero e vamos trabalhar porque não é fácil não, ah mas não é mesmo.
- Garçom, dose dupla de paciência, por favor.
- ah, e não pare de servir. Obrigada.
terça-feira, dezembro 05, 2006
do quarto andar no quarto
Amor líquido, com toda a etimologia da palavra. Pegue mas não tenha, tenha mas não se apegue, se apegue mas não cobre, cobre e tudo desintegrará, ou se desintegrará justamente pela ausência de imposições. E não pára por aí, no pacote ainda vem incluso o cupom que permite a troca do produto, é muito simples, se der defeito ou se não estiver de acordo com suas exigências, faça o escambo. Assim rápido, assim fácil, assim frívolo.
E ainda vem um alegre cantando “...é impossível ser feliz sozinho”. É ou não é ou não é ou não é? É.
sexta-feira, dezembro 01, 2006
lilac
Nuvem de algodão flutuando num céu de ametista, assim sólido, assim lúdico. Pessoas coloridas de acordo com a índole, lembro que eu era lilás, tal qual o céu que insistia em admirar - brilhante, plácido. Não vi miséria nem sujeira, e tudo era assustadoramente organizado. Os carros não possuíam rodas e nada fazia barulho, paz. Tudo estava interligado, uma coisa na outra, o outro no outro, aquilo no tudo, simbiose. Era tudo, era lindo, e as pessoas pareciam assustadoramente felizes dentro daquela pedra-cidade ou cidade de pedra, absolutamente onírica, demasiadamente inumana.