Ela era calma, aparentava uma certa estabilidade emocional.
Procurou um analista porque não se sentia confortável com seus pensamentos, tal qual em vida de marionetes – ou cria cuervos –, sentou-se no divã e começou a despedaçar a vida, não só a dela – não só a ela –, como a dos outros – os outros –, abrindo cada pensamento que estava embrulhado pra presente no cantinho mais escondido do cérebro, como se aquilo fosse preciso para deixar de ser quem era.
Enigmática e trêmula, ela só sabia dizer que não se conformava, não se conformava e que não estava pronta quando aceitou e assinou um contrato. Sentia-se violentada pela vida, pelos atos, pelo alheio, por tudo aquilo que almejava deter o mínimo de controle e no entanto, não podia. Nem devia.
Passou horas falando, palavras confusas, oriundas de um pensamento igualmente desordenado – um labirinto de idéias que jamais tiveram uma fusão entre si. Cativante, ela sorria e chorava ao mesmo tempo, balbuciando injúrias num tom tão doce que mais parecia uma declaração de amor.
De repente a sala azul virou um jardim, o divã se transformou num banco de madeira – daqueles feitos com toras de árvores –, e o analista não estava mais lá. Como assim, ele não estava mais lá? E a sala? E os móveis? Inseriu-se no âmago do próprio ser e a única resposta que conseguiu encontrar foi que ele jamais existira, assim como a sala azul e o divã, assim como tudo e todos. Quando ela mesma, jamais estivera em lugar algum.
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