Às vezes sinto tanta saudade, saudade de um tempo que não vivi, que talvez nem exista, saudade de seres inventados, saudade de cheiros que eu nunca senti e lugares que nunca estive. Sinto como se realmente não fosse daqui. Ou que não pertencesse a esse lugar, a essa mesquinharia do cotidiano, a falta de polidez humana e poesia que abarca essa viagem à margem da terra. Poder não existir, não se entregar, não sentir falta. Me distancio porque não me sinto à vontade, como se fosse uma eterna visita, prestes a ir-se. A intimidade é corrosiva, e quando não nos resta mais nada, vem a solidão, como um golpe arbitrariamente rasteiro, arrebatador. Golpe final. Não sou capaz de descrever a alegria que não vivo, como se não fosse merecedora, talvez não seja, são outras leis que regem o fadado e temido destino, outros valores não tão metafísicos. Não posso contar com um ser abstrato. Loucura segmentada para passos artificialmente calculados. Não posso dizer, não iria entender. Não posso dizer, porque também não sou passível de explicação. Só sei que vida é saudade, e saudade é algo que eu carrego como fantasia distante, que com o tempo – senhor e dono de tudo – está fadada a desaparecer. Quer me seguir ainda que sem planos? Faremos nossa história a cada dia, reinventaremos as memórias, falta muito, nem alicerce temos. Vamos, segure minha mão, já conheço o caminho, tem algumas armadilhas, não sucumba. Pode desistir se quiser, não cairei, seguirei só, se assim o destino escolher, com aquela caixinha de sentimentos ora guardada, ora acessível, que eu tanto estimo e que mesmo sem saber, encontra-se em seu poder, enquanto durar, ou até descolorir.
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