quarta-feira, maio 02, 2007

a última noite

arrumou-se daquela vez como se fosse a última, beijou sua mãe como se fosse lógico, desceu as escadas como se não houvesse amanhã, algo dizia que seria a última vez que os via, pensou em tudo que fez, e, em grande parte, no que não teve tempo de executar. não teve medo do que poderia vir, estava consciente, tudo tem começo, meio e fim. o gosto das coisas modificou e a visão estava meticulosamente espetacular. seria a última noite, a última festa, o último momento entre amigos. curtiu até amanhecer, carregando a certeza que dali não passaria. se a vida não era colorida em sua plenitude, queria conseguir enxergar as nuances daquela noite, de cada poste, de cada pessoa, cores exatas de cada momento. o manto do dia foi estendido, estava em casa, por alguma razão estranha o contrato fora alterado, ainda havia muito pra ver (viver). deitou em sua cama como se fosse a única, dormiu na contramão atrapalhando o sábado. relato da noite em que a morte decidiu não aparecer, mesmo com aviso prévio.

Um comentário:

Flávia Medeiros disse...

o que sou, o que faço, está dentro dos limites que eu considero ético, não é da minha natureza fazer mal a ninguém, querido anônimo, e acho mesmo que, se fiz algo, tenho que pagar por isso, responsabilidade é muito importante para o crescimento. o erro mais comum do ser humano é pecar por ignorância e não estou livre, assim como você não está. dou a minha cara pra bater, acho que você deveria fazer o mesmo, se esconder atrás da cortina não é uma atitude digna de alguém que chama os outros de covarde.

ah, por último, como a cereja em cima do bolo, no segundo post eu tive certeza que nunca trocamos mais que meia dúzia de palavras, o que se vê não é a realidade de fato, se eu fosse tão medíocre como você pensa, tolheria o direito dos outros de conviver comigo. e se pra você, meus problemas são tão irrisórios, lamento muito, mas este é o peso que posso carregar. não subjulgar o alheio é uma arte, restrita a poucos.