sexta-feira, dezembro 15, 2006

que toda loucura seja perdoada


Ela era calma, aparentava uma certa estabilidade emocional.

Procurou um analista porque não se sentia confortável com seus pensamentos, tal qual em vida de marionetes – ou cria cuervos –, sentou-se no divã e começou a despedaçar a vida, não só a dela – não só a ela –, como a dos outros – os outros –, abrindo cada pensamento que estava embrulhado pra presente no cantinho mais escondido do cérebro, como se aquilo fosse preciso para deixar de ser quem era.

Enigmática e trêmula, ela só sabia dizer que não se conformava, não se conformava e que não estava pronta quando aceitou e assinou um contrato. Sentia-se violentada pela vida, pelos atos, pelo alheio, por tudo aquilo que almejava deter o mínimo de controle e no entanto, não podia. Nem devia.

Passou horas falando, palavras confusas, oriundas de um pensamento igualmente desordenado – um labirinto de idéias que jamais tiveram uma fusão entre si. Cativante, ela sorria e chorava ao mesmo tempo, balbuciando injúrias num tom tão doce que mais parecia uma declaração de amor.

De repente a sala azul virou um jardim, o divã se transformou num banco de madeira – daqueles feitos com toras de árvores –, e o analista não estava mais lá. Como assim, ele não estava mais lá? E a sala? E os móveis? Inseriu-se no âmago do próprio ser e a única resposta que conseguiu encontrar foi que ele jamais existira, assim como a sala azul e o divã, assim como tudo e todos. Quando ela mesma, jamais estivera em lugar algum.

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