quarta-feira, setembro 20, 2006

passos cálidos


Ela estava perdida, imersa em uma floresta escura, sem saber qual direção seguir, pois olhando ao redor, todos os caminhos eram igualmente confusos. Chamava por ele, como se o grito erradicasse todo o medo que sentia ao encontrar-se ali, sozinha, sem rumo, e sem idéias. Ele não ia aparecer – e ela sabia –, nem ao menos sabia onde se encontrava, talvez não fizesse questão, ou ainda não achasse que nada incomum estaria acontecendo. Chorava, porque o choro é companheiro do desespero, mas sabia que chorando não se acha saídas, e a situação exigia uma. De repente até clamou para que um milagre acontecesse, colocou à prova a existência de um além-ser. Nada. Tudo no mesmo lugar. Acostumou-se então com a floresta, que tomou ares tão familiares quanto sua casa – uma que outrora teve. Desacreditou na benevolência, e na ausência de máscaras. Tudo pegava fogo, e o mais engraçado – se é que pode denominar assim – é que era fruto de suas lágrimas incandescentes. Culpada, agora. Brasas ao redor por um ato falho. Não soube se encontrar. Talvez não se importasse. Achava que não suportaria a realidade fora da floresta, sem controle, entregue às agruras, sem pormenores. E neste momento, depois de tudo, do medo, da angústia, da sensação de vazio, da falta de perspectivas, ele apareceu. Por um minuto a floresta desapareceu e virou um lindo jardim, claro e organizado. Esperou tudo, queria tudo. A vida encheu-se de luz e alegria. Por um minuto. Pois sabia que na realidade – aquela que arrasa ilusões – ele só podia dar-lhe uma lanterna. E a floresta continuaria a mesma.

2 comentários:

Chata disse...

ela tem todas as respostas e quer muito mais que uma simples lanterna. pode parecer auto-ajuda, mas ela quer e ela pode.
ao passado o que é do passado
deixe o vento levar o que não fez questão de se ancorar


(L)

Anônimo disse...

ela sabe melhor do que ninguém o rumo a tomar. tem uma lanterna mais potente que a de qualquer um que venha a ajudá-la, mas há algo que a impede de ligá-la, ou talvez achá-la - na bolsa, quem sabe. está tão próxima e tão acessível... só falta ela tomar consciência e querer - não apenas perceber - isso.

é assim. só precisa achar e ligar a lanterna. conseguirá acreditar na ausência de máscaras - poucas, mas ainda existentes -, nos caminhos a tomar - mesmo que sozinha -, e na possibilidade da auto-suficiência.

a propósito, ela é uma besta: não percebe que tem potenciais exclusivos, belezas de várias ordens, ferramentas eficientes... ela emana uma luz que também a ajudaria, mas infelizmente, para ela essa luz inexiste - ou existe, mas como um obstáculo.



ah, te adoro. (desculpe pelas viagens por aqui)